A diferença entre notícia e informação

Poucos sabem ou nunca se deram conta da diferença entre notícia e informação. Um professor demora uma aula inteira para explicar e definir os dois conceitos a seus alunos do curso de jornalismo. Bastaria dizer — e todo mundo entenderia — que o conteúdo escrito na bula de remédios ou no catálogo das Páginas Amarelas são mera informação. Não existe um pingo de notícia ali. Por outro lado, quando a informação recebe um banho de loja — ou ganha algum charme — pode até ganhar as manchetes. Até mesmo em determinadas páginas de jornal não existe notícia. Basta folhear as incontáveis folhas dos classificados de domingo.

À primeira vista, ali não existe notícia. Um olhar mais atento pode interpretar, no entanto, a rotina de uma cidade, um povo ou mesmo de uma época. Fundado em 1827, o Jornal do Commercio, por exemplo, exibia naqueles anos — de império e escravidão — anúncios classificados vendendo negras peitudas e boas leiteiras. Já o Correio Paulistano publicou, ainda em 1880 — poucos anos antes da abolição — que o escravo Teodoro, “pardo, de bons dentes, acostumado a lidar com “animaes”, que lê números e faz contas de memória” estava foragido.

É também pelos classificados que é possível avaliar o aquecimento do mercado imobiliário, a variação de preços entre carros novos e usados e até onde vai a credulidade de alguns. Anúncio publicado recentemente em O Globo oferece “trabalhos para afastar vícios, doenças misteriosas, falência, filhos problemáticos, impotência, depressão, insônia, trazer a pessoa amada de volta”, etc. Quando os sequestros andaram em alta, foi pelos classificados que criminosos e parentes das vítimas trocaram avisos e informações. Em outro tijolinho, o detetive Geraldo exibe a própria foto e promete investigações sigilosas nos âmbitos empresarial e conjugal. É ainda nessas páginas que as promessas aos santos são pagas, que se buscam oportunidades no mercado e que se publicam abandonos de emprego para fins legais.

Em O Estado de S. Paulo, o número de colunas de pequenos anúncios dedicados aos serviços de blindagem de automóveis revela o quanto esse negócio está se tornando lucrativo na maior cidade do país. No mesmo caderno, mais um sinal de que a violência também traz oportunidades: alguém compra jóias, relógios e brilhantes. Basta ligar para o número de telefone que aparece no tijolinho do jornal.

Anunciantes respondem pelo conteúdo

Dentro desse mercado persa abrigado pelos classificados, os jornais alertam os leitores ao mesmo tempo em que se protegem. Eles avisam que não se responsabilizam pela procedência dos anúncios tampouco pela veracidade dos conteúdos ou sequer por eventuais prejuízos deles decorrentes.

Segundo a advogada Ana Maria Cavalcanti não cabe ao jornal a responsabilidade pelo conteúdo anunciado e sim ao anunciante. Para ela, o veículo tem o direito de se preservar, responsabilizando-se apenas pelo espaço editorial. “Os tribunais de Justiça costumam ter a mesma postura. As indenizações por danos morais — motivadas por erro de informação (preço, data etc) — cabem a quem produz o anúncio, no caso, o anunciante”, afirma.

Paola Fort, que vai morar três anos na Índia com o marido e as filhas, revela que até propostas de casamento estão nos diários indianos. “As famílias de lá compram espaço nos classificados de jornais importantes e publicam informações sobre seus filhos, grau de instrução, casta e dote. A busca, geralmente, é por alguém da mesma casta ou condição social superior. É uma prática muito comum o anúncio classificado para este fim”, comenta.

Novamente folheando estes cadernos no Brasil surge, em outro anúncio, Natália, “dezenove aninhos, branquinha, corpinho perfeitinho, totalmente namoradinha, realiza suas fantasias reprimidas”. Não fosse uma garota de programa, Natália, certamente, seria uma fada ou a Branca de Neve.

Por Claudio Carneiro

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O passado, presente e o futuro da informação

Para os profissionais de comunicação distraídos ( alguns deles, é claro ), o editor da revista, Thomas Baekdal, que leva o seu nome, criou uma interessante linha do tempo. Reconstituiu a função da informação desde o século XIX em nossas vidas, e tudo de maneira inteligente e gráfica. Baekdal organizou a trajetória que, num primeiro olhar, pode parecer desconexa. Na matéria “Where is Everyone?” (Onde está todo mundo?), ele se propõe a dar uma mãozinha a nós comunicadores que desejamos contatar nosso público e arrisca algumas previsões. Viajando no tempo, Baekdal explica que, antes do século XIX ( época anterior aos impressos), predominava a comunicação presencial, “face a face”. Com a introdução dos jornais, do século XIX em diante, se quisessemos informação, tínhamos de ler a respeito. A partir das primeiras décadas do século XX, o rádio foi roubando espaço dos jornais, que eram predominantes – mas o impacto maior, sobre os impressos, veio a partir de meados do século passado, com a televisão. A TV liderou absoluta até o fim do século XX, quando surgiu a internet. A Web da década de 1990 obrigava todos nós a ter um site, e tirava o consumidor de informação de seu estado passivo, obrigando-o a escolher por onde navegar. Mas a internet seguindo sua trajetória de evolução e com a Web 2.0, em meados dos anos 2000 – dos blogs às redes sociais. Não escolheremos mais que tipo e qual informação receber e sim, qual informação não receber (diante da avalanche de informações). Hoje temos o twitter e, no lugar da “blogosfera”, a “statusfera”. A TV deixa de ser a principal fonte de informação. E no futuro não tão distante assim, Baekdal prevê que cada um de nós será uma “central” – de geração, distribuição e consumo de informações. Tudo sem intermediários:  sem jornalistas e sem meios de comunicação.  Ao vivo, com streamings de áudio e vídeo – via celular. Thomas Baekdal, no Brasil, seria considerado um “xiita”. O pior é que ele não inventou nada, apenas compilou e organizou o que, nos seus gráficos, qualquer um de nós pode agora compreender. Até nós, profissionais de comunicação.

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Comunidades virtuais serão apenas um reflexo da vida real?

Em novembro de 1999, a Organização Mundial do Comércio (OMC) testemunhou o poder das comunidades virtuais durante uma reunião em Seattle, nos Estados Unidos. A Batalha de Seattle, como ficou conhecida, foi planejada com meses de antecedência por mais de 700 ONGs, por meio da articulação de comunidades na internet. Mais de 50 mil pessoas saíram às ruas da cidade, em protesto organizado e não-violento, firmando posição contrária à formação de um mercado global dominado pelas corporações transnacionais. Foi um dos primeiros marcos importantes do poder das comunidades virtuais.

Depois de Seattle, outros movimentos e Dias de Ação Global tornaram-se nós de inúmeras redes virtuais, compostas por indivíduos conectados. Foi assim em Gênova, em julho de 2001, quando os manifestantes (cerca de 150 mil pessoas vindas de várias partes do mundo) foram esperados por soldados, numa demonstração da força de organização dos ciber-manifestantes.

O mesmo aconteceu no Fórum Social Mundial, cuja primeira edição foi realizada na cidade de Porto Alegre em 2001, com toda a sua organização realizada pela internet. O evento tornou-se um contraponto ao Fórum Econômico Mundial, de Davos, e representa o fortalecimento dessa resistência global contra o “pensamento único”.

A internet torna-se, hoje, uma alternativa de articulação e comunicação para os movimentos, que se apropriam de um conjunto de características da grande rede: comunicação multiusuários, produção colaborativa e não-linear, garantia da individualidade e do anonimato. São características que aos poucos são incorporadas pelas organizações e movimentos sociais e transformam a sua forma de atuação. As implicações da interação do mundo presencial e virtual ainda estão longe de serem plenamente conhecidas.

Em paralelo ao avanço das comunidades virtuais, desenvolve-se uma espécie de inteligência coletiva da humanidade com alcance global, decorrente da liberdade de acesso ao conhecimento proporcionada pela internet, ainda que convivendo com muitas restrições em termos de universalidade.

Aceleradas na última década do século XX, as transformações têm sido marcadas por mudanças econômicas, políticas e sociais, tais como a criação de grandes blocos econômicos no planeta, a hegemonia das abordagens liberais, a economia digital e a explosão do ciberespaço e das comunidades virtuais.

A grande rede propicia tais transformações, mas os movimentos sociais e individuais são responsáveis pela produção e caracterização do espaço resultante, algo como a identidade do ciberespaço.

Organização social – Considera-se que as comunidades virtuais poderão contribuir de forma significativa para a prática da cidadania, da comunicação e da organização social, dando abertura a novos modelos políticos e econômicos. Um dos desafios é como desenvolver e disseminar o uso destas comunidades para que elas cumpram este papel de forma efetiva.

As novas relações sociais estruturadas no mundo virtual evidenciam que novas redes serão formadas. Ao contrário da crise de representatividade dos movimentos sociais, existe uma tendência de que novas organizações e mobilizações possam ser criadas e mantidas com base em outros princípios, dentre eles a colaboração, a cooperação, a meritocracia e a participação. O melhor cenário aponta que tais valores serão regra e não exceção.

Entretanto, surge um dilema referente à estrutura de formação destas redes, que verificamos na análise da pesquisadora Christiana Freitas, da Universidade de Brasília-UNB, ao afirmar que “um dos grandes problemas que verificamos no comportamento do mundo presencial com relação ao mundo virtual é que os aspectos positivos do virtual chegam acompanhados dos mesmos vícios de origem das relações sociais tradicionais”. Assim, mesmo com um cenário positivo, nada surgiu de novo depois da Batalha de Seattle, pois o que poderia se tornar um grande movimento social constante e articulado, como nunca antes se viu, aparenta ser um evento que beira o modismo ou algo isolado.

Superar os vícios – Na verdade, como nos ensina Christiana Freitas, temos que superar alguns vícios tradicionais dos movimentos sociais. O desafio não é trivial, pois precisamos superar o individualismo, as reuniões inócuas, o adiamento constante de questões prementes e substituí-los pela pró-atividade, objetividade, coletivização e colaboração nas ações.

Percebemos então que a Batalha de Seattle está longe de ganhar a guerra da transformação social. Infelizmente, toda essa articulação ocorre em países desenvolvidos ou em desenvolvimento, bem distantes da realidade de países periféricos e da maior parte da África. Assim, o desafio maior atualmente passa a ser a garantia do acesso à tecnologia da informação como um direito social, o combate à exclusão digital como uma bandeira de todas as organizações sociais e a re-estruturação educacional, uma emergência.

Faz-se necessário conjugar as mudanças de comportamento, dos indivíduos e das organizações, com as questões políticas de maior envergadura e apenas assim as transformações proporcionadas pela tecnologia da informação realmente modificarão a vida da maioria da população, dando a ela a oportunidade de escrever sua própria História no mundo presencial e no virtual.

Artigo publicado na Revista A Rede, da Momento Editorial.

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Por que tanta gente quer ser jornalista?

Faz muitos anos que os cursos de comunicação social que formam jornalistas são os mais cobiçados nos exames vestibulares. Faculdades de jornalismo pipocam por todo o país, são centenas por toda parte.

Por isso, eu me pergunto: por que tanta gente quer ser jornalista, exatamente neste momento em que se anuncia a morte dos jornais e a nossa profissão é tão criticada pelo conjunto da sociedade?

Além disso, estamos prestes a ter uma decisão do Supremo Tribunal Federal, provavelmente acabando com a obrigatoriedade do diploma, o que, na prática, significa que qualquer um poderá ser jornalista, como já vem acontecendo.

Claro, eu sei que com o crescimento das novas mídias eletrônicas ninguém mais precisa ter diploma nem emprego para ser jornalista, pois cada um pode fazer seu próprio jornal na internet.

A profissão da moda

Mesmo assim, uns 50 mil jovens, ninguém sabe ao certo quantos, estão hoje cursando faculdades de jornalismo para ter um diploma. Daqui a pouco vamos ter um contingente maior de estudantes do que o conjunto de profissionais em atividade.

Cada vez que faço uma palestra ou participo de debates em faculdades, vejo aquele mundão de gente no auditório e me preocupo com o futuro profissional daqueles jovens. Haverá emprego e trabalho para todos?

Emprego bom, não sei, mas trabalho certamente quase todos terão se quiserem mesmo ser jornalistas. Mudaram tanto as relações de trabalho que você hoje já não sabe quem é patrão e quem é empregado de quem diante dos milhares de títulos de impressos e de assessorias de imprensa, sites e blogs na internet.

O mais difícil é saber por que e para que eles querem ser jornalistas. Fiz esta pergunta aos meus alunos quando dei aulas por um período na USP e na PUC/SP no século passado e poucos souberam responder.

Cheguei à conclusão de que a maioria estava ali porque jornalismo era a profissão da moda, sem a menor idéia do que gostaria de fazer na profissão, além de aparecer na tela da TV Globo, é claro, ou ter uma coluna na Folha ou na Veja.

Tempo para fazer matérias

Aquela velha história de idealismo, compromisso social, mudar o mundo e todos os sonhos dos meus tempos de estudante, acabou. A grande maioria quer mesmo é se dar bem, fazer sucesso e ganhar uma boa grana, sem saber como.

Fico impressionado com a quantidade de estudantes que me procuram para dar entrevistas, fazer palestras, dar depoimentos para seus TCC (Trabalho de Conclusão de Curso, uma praga que inventaram para atazanar a vida de velhos jornalistas) ou simplesmente conversar sobre a profissão.

Muitos deles buscam apenas uma palavra de estímulo, um alento, já que em suas escolas os professores os desanimam tanto diante das dificuldades que encontrarão no mercado de trabalho que muitos desistem antes mesmo de tentar alguma coisa.

E no entanto, a cada encontro com estudantes de jornalismo, me surpreendo não só com a quantidade, mas também com o entusiasmo e a qualidade de alguns deles, dispostos a encontrar nesta profissão não apenas uma opção profissional, mas uma opção de vida.

Foi o que aconteceu na última segunda-feira (13/4), na Universidade São Judas, na Moóca, em que tive dificuldades até para sair do auditório. Estava com pressa porque tinha um outro compromisso naquela noite, mas eles queriam fazer mais perguntas até no caminho do banheiro.

Eu até agora não sei responder à pergunta que fiz no título deste post. Se algum leitor tiver a resposta, por favor me diga.

Abaixo, transcrevo a palestra, na esperança de que os estudantes interessados em saber o que penso encontrem as respostas que procuram e me deixem um tempo para poder fazer minhas matérias.

***

1964-2009: 45 anos de reportagem

Boa noite, obrigado por terem vindo…

Antes de mais nada, queria agradecer e dar os parabéns aos alunos que me convidaram e organizaram este encontro – o Maurício Hermann, o Roberto Favaro, o João Luis e Lindemberg Rocha e a Patrícia Santos.

Já tinha decidido não fazer mais palestras gratuitas em faculdades este ano por dois motivos:

** Preciso de mais tempo para me dedicar à reportagem e ao meu blog. Estava dando mais palestras e entrevistas do que fazendo matérias. Não está certo isso.

** Como vivo do meu trabalho, apesar de aposentado, também não acho certo trabalhar de graça. Todo trabalho deve ser remunerado.

Mas os colegas de vocês me convenceram a abrir uma última exceção e por isso estou aqui hoje para falar por amor à arte sobre o nosso ofício de repórter.

Sei que ler um texto é chato, mas, apesar de ter trabalhado durante tantos anos com o presidente Lula, até hoje tenho dificuldades para falar de improviso.

Por isso, peço licença a vocês, para ler um texto que preparei sobre o tema proposto como introdução para o debate que teremos a seguir.

“Não posso reclamar da vida”

Quero me dirigir principalmente aos jovens que ainda acreditam nos compromissos dos jornalistas de servir à sociedade com ética, fiéis ao seu tempo e à sua gente. Este ano estou completando 45 anos de profissão e continuo acreditando nestes princípios.

Fui repórter na maior parte deste tempo, e ainda sou, mas já fiz de tudo e muito na carreira de jornalista – menos trabalhar em circo, por enquanto…

De repórter estagiário a diretor de redação, passando por editor, chefe de reportagem, correspondente na Europa, repórter, comentarista e diretor de televisão, assessor de imprensa de candidato a presidente, secretário de Imprensa da Presidência da República, e atualmente blogueiro profissional, já fiz um muito de tudo.

Trabalhei, em diferentes cargos e funções, nos principais veículos da imprensa brasileira, com exceção da revista Veja e da TV Record. Fica mais fácil dizer aonde não trabalhei.

Para quem começou a trabalhar como ajudante de jornaleiro e depois foi “foca” de jornal de bairro, em 1964, até que não posso reclamar da vida…

“Primeiro denunciam, depois checam”

Aprendi, logo no início da minha carreira, que uma das principais tarefas da imprensa é fiscalizar o poder público e denunciar o que tem de errado, sem deixar de contar o que está acontecendo de bom, sair dos gabinetes, contar histórias da vida real.

A imprensa era então chamada de quarto poder. Mas, nos últimos tempos, alguns jornalistas e alguns veículos parecem ter-se promovido por conta própria ao primeiro poder – primeiro e único.

Quer dizer, a mesma imprensa que investiga e denuncia, também julga e condena. A um só tempo, faz o papel de promotor e juiz, dona da ética e do destino.

Hoje, é fácil. As denúncias muitas vezes chegam prontas para os jornalistas – em forma de dossiês, fitas, listas, como um serviço de delivery.

Vivemos, afinal, o mais amplo e duradouro período de liberdades públicas desde que me conheço por gente.

Em geral, primeiro denunciam para só depois checar a veracidade do que foi publicado – mais ou menos como o policial que primeiro atira para depois pedir documentos.

Da ditadura à democracia

Mas nem sempre foi assim.

Em meados dos anos 70 do século passado, fui autor da primeira reportagem de denúncia publicada pela imprensa brasileira, depois da retirada da censura prévia no Estadão, instalada com o famigerado Ato Institucional nº 5.

Com a colaboração de toda a rede de sucursais e correspondentes do jornal, coordenei uma série de reportagens sobre as “mordomias” do regime militar, relatando os abusos e privilégios de ministros e altos funcionários do governo federal.

O presidente da República era o general Ernesto Geisel e os jornalistas naquele tempo corriam risco de morte no exercício do seu trabalho.

Mais ou menos nessa mesma época, meu colega Vladimir Herzog foi suicidado na prisão e vários outros jornalistas foram presos e torturados.

Tive mais sorte e acabei indo trabalhar como correspondente do Jornal do Brasil na Europa.

Sobrevivi para contar estas e muitas outras histórias no meu livro de memórias Do Golpe ao Planalto – Uma vida de repórter, lançado pela Companhia das Letras em 2006.

Nele, conto como se deu a passagem da ditadura à democracia, sob o ângulo de um repórter que viu e viveu de perto as mudanças no país e na imprensa na segunda metade do século passado.

Mudança de direção

Como comecei em jornal no inesquecível ano de 1964, a partir daí relato o que aconteceu na imprensa e no país até 2004, quando trabalhei como secretário de Imprensa, no Palácio do Planalto, com o presidente Lula.

O livro apresenta um registro destas quatro décadas, divididas exatamente em dois períodos de 20 anos: 20 anos de ditadura e 20 anos da nossa jovem democracia.

No meio, como um divisor de águas, localizo a Campanha das Diretas, o grande marco no processo de redemocratização do país.

A mesma grande imprensa que apoiara com entusiasmo o golpe militar de 1964 e, depois, foi colocada sob censura prévia em 1968, a partir do golpe dentro do golpe, demorou a se dar conta das mudanças, vinte anos depois.

No final dos anos 1980, um grande movimento popular estava ganhando as ruas para dar um basta à ditadura.

Trabalhava nesta época no jornal Folha de S.Paulo que, desde o primeiro momento, ainda nos últimos meses de 1983, abriu suas páginas e mobilizou toda sua equipe para fazer a cobertura da Campanha das Diretas.

Pela primeira vez, notei esta mudança de direção entre os chamados formadores de opinião, abrigados na grande imprensa, e a vontade popular expressa pela sociedade civil organizada.

Brasília demais e Brasil de menos

Em vez de a imprensa fazer a cabeça do povo para ir às ruas, como aconteceu em 1964, agora era o povo nas ruas que obrigava a imprensa a ir atrás para descobrir o que estava acontecendo.

Com a liberdade reconquistada, a imprensa viveria um período de prosperidade, com investimentos em profissionais e máquinas modernas que produziam veículos graficamente cada vez mais bonitos.

Isso durou mais ou menos até meados dos anos 90, quando se instalou uma crise econômico-financeira na mídia. Algumas empresas até hoje lutam para sair dela.

Redações foram progressivamente sendo reduzidas, ao mesmo tempo em que, para cortar custos, o espaço das reportagens na mídia impressa foi sendo ocupado por colunas e pelo noticiário burocrático cevado nos gabinetes e apurado por telefone.

Em conseqüência, houve uma inversão de prioridades na pauta dos veículos. Em lugar das histórias sobre a vida no Brasil real, a mídia impressa passou a dedicar cada vez mais espaço ao Brasil oficial, aos bastidores e às futricas da disputa política, assim como à vida das celebridades.

Com a imprensa regional cada vez mais dependente do noticiário das três grandes agências nacionais – Folha, Estadão e Globo –, o resultado é que passamos a ter Brasília demais e Brasil de menos nos jornais e revistas.

Jornais populares não pararam de crescer

É o caso de se perguntar hoje o que é causa e o que é conseqüência.

A mídia impressa deixou de produzir reportagens por causa da crise econômica dos veículos?

Ou a crise é justamente conseqüência desta mesmice, com os veículos cada vez mais parecidos uns com os outros e distantes do seu público?

Nos anos mais recentes, essa situação se agravou com a concorrência das novas mídias eletrônicas. Agora, já não basta encontrar novas fórmulas para diferenciar um veículo do outro, mas também acrescentar algo a mais ao noticiário das agências on-line, para diferenciar uma mídia da outra.

Além disso, enquanto a grande imprensa de papel encolhia, emissoras de rádio e televisão passaram a investir cada vez mais em jornalismo. E se multiplicaram por toda parte os sites e os blogs.

Bem abastecido de informações durante todo o dia, o leitor dos jornais de prestígio passou a sentir um gosto de pão amanhecido no noticiário impresso que acompanha seu café da manhã.

Esta modorra só costuma ser quebrada quando surge um novo dossiê, uma nova fita ou entrevista explosiva capaz de balançar os alicerces da praça dos Três Poderes.

Em compensação, os jornais populares não pararam de crescer no mesmo período, incorporando um leitorado novo. Quase todas as grandes empresas investiram nesse filão, atraindo gente que nunca antes teve dinheiro para comprar jornal.

Regras do jogo

O casamento do preço de capa bem mais barato com a melhoria de renda dos trabalhadores criou um novo e promissor mercado. Além disso, temos agora também os jornais distribuídos gratuitamente nas esquinas.

Por isso, entre outras razões, não faço coro aos profetas do apocalipse que anunciam há tempos o fim da imprensa de papel.

Assim como o cinema não acabou com o teatro, e a televisão não acabou com nenhum dos dois que vieram antes, acredito que todas as formas de divulgação de informações sobreviverão.

O que cada mídia precisa fazer será definir qual é o seu papel nesta história e ser capaz de atender às demandas da sua freguesia.

Para que isso seja possível, penso que se torna cada vez mais necessário estabelecer marcos regulatórios na comunicação social. De preferência, com a auto-regulamentação da atividade, tanto para empresas como para os profissionais, a exemplo do que já acontece com o Conar, que zela pela ética na publicidade.

Num mundo cada vez mais conectado à grande rede, em que seremos todos um dia, ao mesmo tempo, emissores e receptores de informação, há que se estabelecer regras do jogo claras para todos.

A revolução da internet

Só assim a liberdade de expressão e informação será realmente um direito da sociedade democrática, e não um privilégio de interesses particulares de grupos políticos ou econômicos.

Assim como aconteceu lá atrás na Campanha das Diretas, assistimos hoje a um processo semelhante, em que a população já não se submete mais passivamente aos velhos donos da verdade, mas forma sua própria opinião a partir das mais diversas fontes e, principalmente, dos fatos concretos da sua própria realidade.

Na medida em que, pelas mais diferentes razões, a chamada grande imprensa deixou de acompanhar o cotidiano da vida real em largas regiões do país, ao invés de surpreender seus leitores, muitas vezes ela é que está sendo surpreendida pelos fatos.

De outro lado, cresce a importância dos veículos regionais, das publicações independentes, das rádios e televisões comunitárias, um passo importante para a democratização das informações.

Deixei para o final a parte mais importante da história: a grande revolução que a internet está provocando hoje nas relações humanas – a maior desde que Gutenberg inventou a imprensa, faz uns 500 anos.

A ética do carpinteiro

Quase 60 milhões de brasileiros já estão ligados à grande rede, tornando-se ao mesmo tempo emissores e receptores de informação, acabando com esta história de formadores de opinião.

Hoje, cada um quer formar a sua própria opinião e, se possível, influir na opinião dos outros…

Eu, se fosse vocês, querendo mesmo ser jornalista, começaria desde já a trabalhar na internet, nem que seja de graça… Só comecei neste mundo muito recentemente, já chegando aos 60 anos, e confesso que estou gostando muito…

Voltando à mídia tradicional. Para aproximar novamente um mundo do outro, quer dizer, a fábrica de papel impresso da realidade vivida por sua clientela, só tem um jeito. É colocar novamente os dois em contato, falar a mesma língua, reaprender a contar histórias da vida real – não só contar, mas também explicar o que está acontecendo. É sair da redação, largar o telefone e as teses dos analistas políticos, botar outra vez o pé nas ruas e nas estradas, olhos e ouvidos bem abertos.

Para isso, sigo sempre a lição do velho mestre Cláudio Abramo. Ele dizia que a ética do jornalista deveria ser igual à ética do carpinteiro – ofício que ele também exercia nas horas vagas. Quer dizer, precisamos apenas ser honestos naquilo que fazemos e fazer bem feito o nosso trabalho, qualquer que seja nosso cargo ou função. Não é a função ou o cargo que faz o profissional, é o contrário: em qualquer cargo ou função, seja numa redação ou numa assessoria de imprensa, a nossa ética tem que ser a mesma.

Hoje, o desafio é outro

Era assim que pensava e agia quando trabalhei como secretário de Imprensa no governo.

Nós, afinal, prestamos um serviço ao público, para o conjunto da sociedade, e não para quem eventualmente nos paga o salário, seja uma empresa privada ou o governo.

O caminho que escolhi e segui quase a vida toda foi o da reportagem – a melhor maneira de contar o que está acontecendo, de denunciar o que está errado, mas também de louvar as iniciativas de brasileiros que estão mudando a sua própria história e a do país.

É o que procuro fazer agora na Brasileiros, revista mensal de reportagens, uma iniciativa de alguns jornalistas da minha geração que ainda não perderam a fé na nossa profissão, apesar de tudo. Se alguém ainda tiver dúvidas de que vale a pena ser jornalista, basta dar uma olhada na revista, que já está completando dois anos.

Desde abril do ano passado, escrevo também no portal IG, onde mantenho um blog chamado “Balaio do Kotscho”. Não percam!

Para mim, não faz a menor diferença se escrevo um texto para a internet, uma revista ou para um novo livro.

Nós, repórteres, somos contadores de histórias da vida real – o meio usado para isso, a tal da plataforma, pouco importa.

Se antes, quando eu comecei, era arriscado e difícil denunciar a corrupção dos podres poderes de sempre, hoje o desafio que se coloca para nós, profissionais, é outro. É não servir de instrumento a interesses político-partidários, sejam eles do governo ou da oposição, preocupando-nos unicamente em contar o que a sociedade tem o direito de saber sobre o que está acontecendo.

Tanta história para contar

Sei que pode parecer romântico ou utópico o que estou dizendo, especialmente se falo para jovens que muitas vezes já perderam a capacidade de sonhar e de ousar. Mas sempre foi assim que entendi o nosso papel de repórteres – esses historiadores do cotidiano que escrevem sobre o dia de hoje, sempre na esperança de contribuir para um amanhã melhor.

Posso garantir a vocês que vale a pena tentar, mesmo remando contra a maré, mesmo dando murro em ponta de faca: é muito bom poder trabalhar como jornalista num país como o Brasil – onde tanta coisa ainda está por ser construída e tanta história para ser contada. Muito obrigado.

Um pouquinho antes da primeira eleição do companheiro Lula o companheiro Ricardo Kotscho fez “uma reportagem” laudatória com o tal Lula. Deu duas (2) páginas folháticas na Folha (de S. Paulo, hein). De puras loas e “camaradagem”. Publicada na “íntegra” como gostaria o tal companheiro Espinosa. Esse tal Los Fubangos é um “rancho” (propriedade rural) localizado em São Bernardo do Campo (SP). O tal Kostcho é fascinado pelo tal “Los Fubangos”. Mas, esse “rancho” não está declarado nos bens do companheiro Lula, não!. Afinal, esse tal “Los Fubangos é do companheiro Lula ou não é?. Na fase lulática aquela “entrevista” do “irmão” Ricardo Kotscho foi a inauguração do tal PIG do B -Partido da Imprensa Governista do Brasil-. Por que tanta gente quer ser jornalista?. Ora, para aparecer nas telas da Rede Globo!. Mas, a maioria sem a apresentação “sindical” e sem o sobrenome de papai!. Observação: Geralmente a Folha (de S. Paulo, hein!) aceita reempregar “refugos” que foi para o governo. Mas, que por “incapacidade” companheirática -principalmente- tem de voltar ao tal “mercado”. Felizmente para a história folhática da Folha (de S. Paulo, hein!) o tal companheiro Ricardo Kostcho -ex-homen de governo, rarará- como se declarou quando fora “a favor” do proscrito (?) projeto do Conselho Federal de Jornalismo não o readmitiu!. Companheiro que é companheiro deveria ficar no governo até o fim!.
Ney José Pereira , São Paulo-SP – Contador
Enviado em 22/4/2009 às 3:56:41 PM
Resposta à pergunta-título do artigo: Para extrapolar a profissão de jornalista e tornar-se ou ser mais do que um amigo do rei (do companheiro-presidente desta República). Um “irmão” de algum “presidente” filho do Brasil!. Aquela última “reportagem” (vulgo, assessoragem) do companheiro Ricardo Kotscho com o companheiro Lula -um pouquinho antes da eleição, hein!-. Falou até de um tal Los Fubangos!.


Ricardo Kotscho

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Ser jornalista é profissão "perigo" no México

  O México é o lugar mais perigoso da América Latina para se praticar o jornalismo, sobretudo quando se trata de cobrir a “guerra” entre as autoridades e os narcotraficantes. O Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ), uma organização não-governamental baseada em Nova York, contabiliza 24 assassinatos ligados ao exercício da profissão desde 2000, mais sete desaparecimentos nos últimos três anos. A Federação Internacional dos Jornalistas lembra que dos 300 profissionais de mídia mortos no mundo nos últimos dez anos, 25% são mexicanos. “Com o Iraque, o Afeganistão e o Paquistão, o México é um dos países mais arriscados para um jornalista crítico”, declarou o célebre jornalista alemão Günter Wallraff, em uma mesa-redonda organizada no final de novembro na Feira Internacional do Livro de Guadalajara. A mexicana Alma Guillermoprieto, que cobriu as guerras civis da América Central para mídias britânicas e americanas, deu em Guadalajara uma conferência intitulada “Como ser jornalista e não morrer”, salientando os perigos próprios à situação do México: “Um jornalista que trata do tráfico de drogas se atira em um túnel escuro, onde os tiros podem vir a qualquer momento e de qualquer lugar”. Esse balanço é contestado pelo procurador federal encarregado dos crimes contra jornalistas, Octavio Orellana. Recentemente ele garantiu que apenas três vítimas foram mortas por causa da profissão e que as outras encontraram a morte por motivos semelhantes “aos que afetam todos os mexicanos” – acidente, bala perdida durante um confronto entre bandidos ou suicídio. E com freqüência não eram verdadeiros jornalistas, ele acrescenta. Orellana recebeu uma réplica ferina por parte do responsável da CPJ para as Américas, Carlos Lauria: “Esses números evocam mais uma zona de conflito do que um país democrático”, ele afirmou, lembrando que dos 24 assassinatos registrados pela CPJ somente um foi solucionado pela justiça. A polêmica ocorre após o assassinato a tiros de Armando Rodríguez em 13 de novembro em Ciudad Juárez: ele era o especialista em assuntos criminais no “El Diario”, principal jornal dessa cidade fronteiriça com o Texas, onde se lamentam desde janeiro mais de 1.300 mortes violentas causadas pelos cartéis da droga. Em 6 de novembro, uma cabeça humana cortada foi depositada em Ciudad Juárez na “praça dos Jornalistas”, ao pé de um monumento dedicado à “liberdade de expressão”, onde estão inscritos os nomes de profissionais da mídia assassinados. O assassinato de Armando Rodríguez, seguido de um atentado contra um jornal de Culiacan, capital do estado de Sinaloa (noroeste) e outro campo de batalha dos cartéis, causou um choque no seio de uma profissão já habituada ao pior. “É sem dúvida exagero colocar o México no mesmo plano que o Iraque”, admite Adriana Valasis, jornalista da rede de TV Azteca. “Mas esse novo crime provocou um debate na Internet entre colegas dos grandes jornais mexicanos, para tentar definir uma posição comum.” Com dezenas de outros jornalistas, a jovem assinou uma petição lançada pelo grupo “Periodistas de a pie” (Jornalistas em campo): “As autoridades devem mostrar seu envolvimento pela liberdade de expressão e o direito à informação”. Em várias regiões, sobretudo no norte, essa liberdade fundamental é constantemente sufocada. Em Tijuana, às portas da Califórnia, alguns repórteres não saem mais sem colete à prova de balas e se contentam em dar uma informação mínima. Em Nuevo Laredo, a mesma reserva depois que o jornal “El Mañana” foi atacado a metralhadora e a granada em 2006. No nordeste, feudo do cartel do Golfo, os “narcos” telefonam sem medo para as redações: “As ‘pessoas’ da organização criminosa não querem que vocês publiquem tal nome ou tal foto”. Em Ciudad Juárez, nove jornalistas receberam ameaças do crime organizado, contra eles ou suas famílias. Dois preferiram recentemente exilar-se nos EUA. “O pior é a indiferença institucional a tudo isso”, diz ao “Monde” Gerardo Priego, deputado do Partido da Ação Nacional (PAN, de direita), a formação presidencial. “O assassinato de Rodríguez poderia ter sido evitado com medidas de proteção aos jornalistas mais expostos”, ele afirma. “Não compreendem que o jornalista cria um bem de interesse público, que é a informação.” Presidente da comissão parlamentar que acompanha as agressões contra jornalistas, Priego, quer aprovar uma lei que qualifica os ataques contra veículos de mídia de delito federal. Segundo ele, ocorrem cerca de dez ataques por mês contra a imprensa no México, que vão da escuta telefônica ilegal ao ataque físico. “E em quatro casos sobre dez eles vêm de autoridades locais ou do governo, sem falar na utilização da publicidade oficial para recompensar as mídias dóceis ou, ao contrário, castigar as outras, salienta.

Texto de Joëlle Stolz com tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves.

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BLOGOSFERA O uso jornalístico dos blogs

Os weblogs, comumente chamados de blogs, surgiram como um diário pessoal na internet, um lugar para escrever e divulgar coisas de interesse íntimo e opiniões. Essa ferramenta digital ainda é usada para essa finalidade, porém vem se expandido e sendo incorporada também com outros objetivos, mercadológicos. Os blogs atualmente têm sido preferencialmente desenvolvidos por empresas de mídia para informar mais, dar continuidade ao material divulgado na TV, revista, jornal ou rádio. É o jornalismo fazendo uso do blog.O blog pode ser atualizado e editado várias vezes diariamente, sem limite aparente de conteúdo. Isso gera uma grande facilidade para as redes de comunicação divulgarem mais sobre os assuntos que cobrem. Tem ainda a vantagem da interação entre o autor do blog e o leitor. Na seção de comentários de leitores, disponibilizada nos blogs, pode-se criticar, acrescentar informações, elogiar, corrigir, enfim, falar com o responsável pelo material divulgado com muito mais facilidade, ajudando a manter o espaço sempre atualizado. Isso é importante também para a formação do blog. Saber o que o leitor quer ler e como quer é fundamental para que qualquer meio atraia cada vez mais leitores.

Blogueiros e jornalistas

Outra utilização do blog feita pelos jornalistas e outros membros de empresas de comunicação é como mecanismo de opinião. No jornalismo online, em geral, há maior divulgação de conteúdo opinativo, mas no blog isto está mais caracterizado pela existência de discussão contínua sobre o que é divulgado nos textos, incluindo o uso de comentários dos leitores para a criação de novos posts. Assim, até a própria linguagem empregada virtualmente termina por se diferenciar daquela encontrada no jornal impresso. Percebe-se maior intimidade entre autor e leitor – afinal, seu escritor tem mais nítido com quem está dialogando.

Grandes empresas jornalísticas mantêm em seus sites blogs de seus profissionais. O site Zero Hora.com, por exemplo, apresenta uma variedade de páginas para cada assunto, onde jornalistas e comentaristas da organização divulgam diariamente notícias que não ganham espaço na versão em papel, aprimoram o conteúdo do jornal ou manifestam suas opiniões. Além disso, ainda há as páginas virtuais temporárias, feitas exclusivamente para cobrir algum fato importante que está acontecendo em um dado período, como os vários blogs que tratavam dos Jogos Olímpicos de Pequim.

Contudo, todo esse uso que as grandes mídias estão fazendo desse instrumento começou após a invenção dos diários digitais. No seu início, os weblogs eram feitos pelos adolescentes usuários da internet, que se serviam deles literalmente como diários, onde escreviam os acontecimentos do dia-a-dia, suas reflexões e frustrações. Havia também os blogs temáticos, que reuniam um grupo de pessoas com os mesmos gostos sobre variados assuntos. Os próprios jornalistas, no princípio, não viam os blogs com bons olhos. Qualquer um poderia criar uma página e publicar notícias iguais ou muito semelhantes às disponibilizadas pelos jornais online. Havia um embate entre os blogueiros conhecidos e jornalistas formados – um lado alegando liberdade para se expressar e o outro exigindo profissionalismo na divulgação de notícias.

Interação direta com o cliente

Atualmente, quem não está muito contente com o uso feito dos blogs são os seus antigos usuários. O diário digital ganhou popularidade entre as empresas de comunicações que, em sua grande maioria, mantêm vários blogs de seus profissionais. Os tradicionais utilizadores, que os mantinham para fazer confidências a parentes e amigos, perderam espaço para os grandes blogs, cujas visitas chegam a mais de um milhão por mês. Por mais que esse ambiente seja visto pelos leitores de blogs jornalísticos como uma forma mais próxima do autor, os donos das páginas desbancadas perceberam que os blogs se tornaram mais uma ferramenta para garantir lucro aos grandes grupos midiáticos. A intimidade que eles tinham com os leitores do blog foi alterada.

Enquanto isso, cada vez mais as empresas jornalísticas, e mesmo companhias fora do ramo da comunicação, investem nesse novo meio de passar informação, conhecimento e, além de tudo, de interação direta com o cliente. No entanto, sem deixar de lado as potencialidades tradicionais da mídia, que ainda são as que atingem maior número de pessoas.


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Considerações sobre Jornalismo online e o leitor 2.0

Seminário promovido pela Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano debate o futuro da atividade na internet; entre os desafios está a convergência das redações e a maneira de lidar com o usuário e seus comentários publicados nos sites dos jornais, nem sempre politicamente corretos.

Veículos de diversas partes do mundo estão correndo atrás do tempo e procurando adaptar a atividade online ao cenário 2.0, no qual o usuário assume um papel cada vez mais participativo. É assim que o americano John Burke, do World Editors Forum, grupo ligado à Associação Mundial de Jornais, analisa o momento atual do jornalismo na internet. “Cinco anos atrás, muito se falaria sobre colocar o noticiário publicado no impresso no site. Hoje, os jornalistas continuam trabalhando da mesma maneira. Quando as redações finalmente se deram conta de que a internet é algo realmente muito importante, elas se apressaram para atender seu público de maneira mais adequada. Mas, de um modo geral, os jornais estão muito atrás do usuário”, disse.

Burke é um dos profissionais convidados pela Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano (FNPI), presidida pelo escritor Gabriel Garcia Márquez, para o seminário O futuro do jornalismo na internet e a profissionalização da redação online, que acontece em Bogotá até esta quinta-feira, 6. O evento, que também é promovido pela Corporação Andina de Fomento (CAF), com apoio do Google, reúne jornalistas da América Latina e da Europa para debater o que se produz atualmente para a web, como integrar os profissionais das redações tradicionais às demandas dos novos tempos fazendo uma convergência adequada, os dilemas do jornalismo online e de que modo enriquecer a atividade com qualidade e rigor sem ferir a ética jornalística e sem deixar de lado a agilidade que o meio exige.

Na primeira rodada de debates, o professor e jornalista colombiano Javier Dario Restrepo, um veterano e premiado representante da imprensa daquele país, declarou que a ética que valeu a Gutenberg é a mesma para o jornalismo online. Ele apontou as debilidades, as vantagens e as exigências da prática do ofício no ambiente da web.

Uma das críticas é que, se o jornalismo é entendido como um meio para aquisição de conhecimento, então o que se tem atualmente é um rio caudaloso de informações, mas com escassez de conhecimento. Restrepo, professor da FNPI, refere-se ao excesso de dados disponibilizados na web que não tem fonte segura e à falta de credibilidade de itens publicados, por exemplo, em serviços como Wikipedia. “A informação digital não é totalmente certa. A internet é como um mercado popular, povoado de ruídos dos mercadores querendo vender seus produtos”.

Outro palestrante, o chileno Andrés Azócar, professor e diretor da Escuela de Periodismo de La Universidad Diego Portales e criador do museu da imprensa chilena, observou que para o exercício da ética jornalística no mundo 2.0 é preciso levar em conta que os não-profissionais são os soberanos da internet. Entre os dilemas que apontou estão: velocidade versus veracidade (“Os jornalistas não deveriam encarar a velocidade como um risco, mas como oportunidade”), jornalismo administrado versus jornalismo cidadão (“Há muitas informações de qualidade que são produzidas por pessoas que não são jornalistas, mas que estão em contato com a notícia”) e o controle da ética pelos meios ou pelo público. Na opinião de Azócar, quem detém esse controle, no final, é a própria audiência do site ou do blog de notícias. “O público tem bom senso”, argumentou.

Moderar ou não comentários dos leitores?
A questão, no entanto, não é unânime. Um dos painéis mais debatidos foi exatamente a moderação ou não da postagem de comentários dos leitores nos sites dos veículos. O problema mais sensível é a publicação de termos ofensivos, racistas e preconceituosos. Para a colombiana Maria Teresa Ronderos, professora da FNPI para a área de cobertura de noticiário político e social, é preciso dar liberdade ao usuário. Ela não concorda com o controle sobre a publicação dos comentários. “O leitor deve ter o direito de até falar mal do presidente da república no site e não em seu blog pessoal. Porque o que ele quer é o alcance de um site de notícias”.

Outros especialistas, no entanto, alegam que muitos posts – sejam a respeito de política ou de futebol – partem para a injúria ou mesmo incitam a violência e que, no final, o veículo pode ser responsabilizado juridicamente pelos comentários. Embora não tenha havido um consenso, o que mais se ouviu foi a defesa do estabelecimento de “regras do jogo” claras para os leitores. Em algumas publicações, utiliza-se um software para filtrar termos inadequados. Há quem exija um cadastro, com identificação do usuário que quiser fazer um comentário. E existe mesmo, em algumas redações, a função de ler, filtrar e publicar os comentários.

O primeiro dia do seminário, ocorrido na quarta-feira, 5, incluiu ainda um debate em torno dos direitos autorais na internet. Uma das propostas é o uso das licenças do Creative Commons, caso de algumas fotos publicadas no site Flickr, como ferramenta para o manejo de conteúdo na internet. Pedro Less, gerente de assuntos governamentais e de políticas públicas do Google Latinoamericano, disse que a autoregulamentação é importante, mas que é essencial também uma legislação equilibrada. “É necessário preservar os direitos do autor, mas também é preciso fomentar a criação. Na web 2.0, os usuários se converteram nos principais provedores de conteúdo na rede”, comentou.

Nesta quinta-feira, 6, o seminário prosseguiu com mais uma rodada a respeito do tema “Liberdade ou controle: o que fazer com os conteúdos produzidos pelos usuários”. Um dos debatedores, Jean-François Fogel, do Le Monde, disse que os veículos precisam se reinventar e encontrar seu caminho para atuar com relevância na internet. O Le Monde criou o Le Post, um site que funciona “ao lado” da página online do tradicional jornal francês. O Le Post, lançado há um ano, conta com intensa participação do usuário. As notícias enviadas pelos internautas são checadas pelos jornalistas do site.

Outra experiência é do site de informações Soitu, que foi criada pelo espanhol Gumersindo Lafuente. Os usuários são remunerados em 20 euros quando tem notas ou posts multimídia selecionados pelos jornais da casa, que ganham destaque na página. O site entrou em operação total neste ano. Segundo Lafuente, há 400 pessoas que contribuem regularmente com o Soitu. A empresa conta com 38 funcionários, sendo 25 jornalistas e 8 especialistas em tecnologia.

Além disso, um painel discutiu a monetização e os dilemas éticos da atividade jornalista na internet, com participação do editor do clarin.com, Marcelo Franco. Essa palestra contou ainda com Bruno Patiño, diretor da escola de jornalismo de Sciences-Po, em Paris.



*A jornalista Lena Castellón viajou a Bogotá a convite do Google.

Matéria publicada em 07/11/08 no Meio & Mensagem Online.

“Amigo, não me mande mande mais Spams ! "

O tema deste texto poderá surpreender alguns pela simplicidade ou mesmo despertar aquela sensação comum quando nos damos conta de que deixamos de enxergar algo que estava bem debaixo do nariz. O protagonista desse post é um mal que está presente em nossa vida diária, e o transtorno que causa pode ser atribuído a sua inevitável – e por isso irritante – constância. Por mais que pareça difícil eliminá-lo, é preciso saber que a vitória, nesse caso, depende do empenho individual de cada um de nós, assim como da conscientização dos que estão a nossa volta. Em prol de minimizar seus efeitos nocivos – bem como auxiliar no combate desse que é o grande vilão de nossa era – hoje lanço a campanha “Amigo, não me mande mais spams!”. Tão difundida quanto o hábito de trocar e-mails é a constatação de que 80% das mensagens que chegam às caixas de entrada não foram enviadas por alguém que conhece o destinatário. O spam é indiscutivelmente uma praga da vida moderna, capaz de deixar as baratas no chinelo.

O termo se originou por alusão a uma espécie de bolo de carne enlatado, muito comum nos lares americanos, capaz de causar náusea em qualquer um que o consuma com assiduidade. Outro dia me surpreendeu o resultado de uma pesquisa, segundo a qual, o principal emprego de verbas publicitárias nos Estados Unidos é a mala direta.

Não tive acesso aos números referentes a eficácia do método, mas creio que, se a cada mil pessoas apenas uma se interessar pela mensagem enviada, o investimento já se justifica. Até porque mandar e-mails, pelo que eu saiba, não custa nada. O gasto aí provavelmente se deve aos gastos operacionais e a remuneração dos infelizes que conseguem os endereços.

Numa aterradora previsão, não tarda o momento em que os spams chegarão também aos celulares – as operadoras já iniciaram esse processo – e não me espantaria se daqui uns 15 anos o telegrama voltasse com força total. Para evitar que o e-mail se torne uma ferramenta inviável é preciso agir enquanto há tempo.

A campanha “Amigo, não me mande mais spams!” se destina principalmente aqueles indivíduos que indiretamente alimentam de informação os bancos de dados desses verdadeiros piratas da privacidade alheia, através do irresponsável costume de mandar gracinhas cibernéticas para todos os conhecidos. Aproveito o ensejo para registrar uma espécie de carta-aberta:

Amigo(a) / parente:

Desculpe se não houve coragem ou oportunidade para dizê-lo antes, o fato é que não quero mais receber seus e-mails. Mesmo que seja o vídeo do cachorrinho que fala, a bela e falsa mensagem do famoso poeta, o texto engenhoso construído com palavras de duplo sentido, a piada que faz alusão ao acontecimento da semana, a foto da celebridade em situação embaraçosa, seja o que for, não me mande, eu não quero receber. Mesmo que seja a coisa
mais incrível que você já leu ou assistiu, eu prefiro descobrir por mim mesmo.

O motivo pelo qual torno essa carta pública deve ser o mesmo pelo qual as pessoas preferem terminar namoros no palco de programas de auditório; acho que a exposição pública evita o constrangimento privado. Espero que você compreenda, não é nada pessoal.

atenciosamente,
Bruno Medina.

Bom, se você gostou do modelo acima, pode utilizá-lo, apenas tendo o cuidado de trocar o meu nome pelo seu. Caso queira continuar a receber e-mails com conteúdo “divertido”, instrua seus amigos a evitar aqueles enormes cabeçalhos utilizando o recurso da cópia oculta (mensagem que omite o nome dos destinatários).

É muito simples: basta colocar o seu próprio endereço no primeiro campo (to:) e os demais endereços no terceiro campo, onde se lê (Bcc:). Espalhe essa informação e seja mais um elo dessa corrente que pretende construir um mundo sem spam. Mas, por favor, tente fazer isso sem gerar um novo spam!

( Fonte : Reproduzo este post publicado por Bruno Medina, tecladista do ” Los Hermanos “, em seu blog na Globo ponto com )

O Livro tem Futuro ?

“Ninguém vai se sentar e ler um romance em uma telinha flexível. Nunca.” A escritora Annie Proulx, vencedora do prêmio Pulitzer, escreveu essas palavras no jornal “The New York Times” há mais de uma década. Talvez ela tivesse uma opinião diferente se conhecesse o Kindle (pronúncia: “quíndol”), aparelho para leitura de livros eletrônicos lançado em novembro pela livraria virtual Amazon. Para convencer mesmo os mais relutantes, o Kindle usa e-ink, uma tinta eletrônica que não cansa os olhos e o download direto de um acervo gigante de livros – sempre mais baratos que na versão em papel.