Estudo aponta que jornalismo é profissão muito perigosa no Brasil

Relatório da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão aponta que atuar na imprensa brasileira está entre as atividades mais perigosas

Relatório da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), divulgado esta semana, apontou que atuar na imprensa brasileira está entre as atividades mais perigosas. Intimidações, ofensas, ameaças, perseguições, detenções, agressões, assédios de toda ordem e assassinatos estão entre os 114 episódios – ante 76 no ano anterior – denunciados na pesquisa que também demonstra o aumento do número de mortes de profissionais de imprensa – após dois anos de queda. Militantes de partidos e manifestantes estão entre os principais agressores em 2018.

Ainda segundo o estudo, as distintas formas de agressão estão relacionadas ao contexto político recente – marcado pela prisão do ex-presidente Lula, pela greve dos caminhoneiros e pelas manifestações políticas durante a campanha que elegeu Jair Bolsonaro.

Segundo a Abert, três radialistas – Jairo Sousa (de Bragança, no Pará), Jefferson Pureza (de Edealina, em Goiás) e Marlon Carvalho (em Riachão do Jacuípe, na Bahia – foram executados no exercício da profissão por divulgar denúncias e críticas a autoridades e políticos de suas regiões. Presidente da associação e vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet Camargo – recentemente chamado de “inimigo” pelo presidente Bolsonaro – destaca que o índice brasileiro preocupa: “Eles foram assassinados por exercerem o direito de livre opinião e livre cobertura nos seus veículos. O saldo de mortos em 2018 em todo mundo chegou a 86, inclusive em áreas de conflito”. Em 2017, a Abert contabilizou um assassinato. Na série histórica, 2015 foi o ano mais violento, com oito homicídios. Nos últimos 12 anos, o número chega a 38. Apenas dez crimes foram solucionados.

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As distintas formas de agressão estão relacionadas ao contexto
político recente (Foto: EBC)

O ranking dos países mais perigosos

Organismo que também se preocupa com a violência praticada contra a mídia, a Unesco lembra: “em muitos países, as publicações são censuradas, multadas, suspensas e fechadas, da mesma forma que jornalistas, redatores e editores são perseguidos, atacados, detidos e até assassinados.” Segundo dados do mais recente – embora já antigo – estudo da organização, de 2015, a França acabou entrando no triste ranking mundial da violência contra a imprensa por causa do massacre de doze funcionários, redatores e cartunistas do jornal Charlie Hebdo, que causou comoção mundial.

Assim, a lista começa com o Iraque (13 mortos e 60 foragidos por medo de represálias). Em segundo, aparece a Síria (10 mortos e um sem-número de profissionais feitos reféns ou presos). A França surge, de forma extemporânea, em terceiro (oito jornalistas mortos). Seguem o Iêmen, o Sudão do Sul, a Índia, o México, as Filipinas e Honduras.

Também na América Central, a Nicarágua é alvo de denúncia da Fundação Violeta Barrios de Chamorro. Ali, em 2018, segundo a entidade, foram deflagrados 420 atentados, ameaças e censuras – vitimando 260 jornalistas – perpetrados por forças simpatizantes ou subordinadas ao governo do presidente Daniel Ortega. Os casos mais emblemáticos foram o assassinato de Ángel Gahona (morto com um tiro na cabeça), além de 26 ofensas, 71 intimidações, 64 censuras, 62 ameaças, 77 agressões, 70 ataques e 33 casos de difamação promovidos por policiais e paramilitares da Frente Sandinista.

Mesmo fora do já caduco relatório da Unesco, a Venezuela está no segundo pior lugar no ranking mundial da liberdade de expressão da organização Freedom House. Cuba ocupa o primeiro posto. Embora – no papel – a Constituição do país proteja a liberdade de imprensa, ao Governo Maduro – na prática – é permitida a intimidação e censura a veículos e empresas – inclusive com a ameaça de não renovação de concessões de emissoras de rádio e TV – e toda sorte de constrangimentos a jornalistas.

Por Claudio Carneiro

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