O desconforto da leitura online

Existe uma lenda de que “ler na internet” é muito desconfortável e que por esse motivo a web ainda não substituiu os livros e as revistas circulantes nas prateleiras de livrarias e bancas de jornal.

Como já tratamos em outro artigo sobre o mito do limite dos textos, hoje comentaremos sobre o mito do desconforto visual.

Pra começar, acho importante lembrar que a internet não foi criada para substituir a mídia impressa. Ela é uma outra mídia, que se estabeleceu como mídia online e hoje compete lado a lado com a mídia impressa ou offline. A web é mais um meio de informação, entretenimento, relacionamento, e tudo mais que sua definição abrace. Por esse motivo é que vemos as bancas abarrotadas de jornais e revistas e uma segmentação dos públicos jamais imaginada pelos periódicos, compondo o mercado de nichos do qual fazemos parte.

O hábito de leitura tradicional envolve uma série de técnicas corporais. Preferencialmente sentado, ou deitado, o corpo procura uma posição confortável para se acomodar. Depois, as mãos seguram ou servem de apoio para o objeto (livro, revista, jornal) prontas para iniciar o processo de virada das páginas. Os olhos começam a exploração da primeira página até a última, conectando as palavras da esquerda para a direita, de cima para baixo. Na grande maioria das vezes, os objetos são portáteis e leves, o que propricia o prazer da leitura em qualquer ambiente, exceto os sem iluminação.

A leitura da tela é totalmente diferente. Primeiramente a luz está na tela, a própria tela é luz. Tanto faz se é uma de 42 polegadas ou uma tela de aparelho de celular. Você sempre conseguirá ler, mesmo no escuro. Isso é muito confortável. Jakob Nielsen, o guru de usabilidade, em 2006 pesquisou mais de 200 pessoas para analisar o modelo de rastreamento ocular pela tela do computador. Verificou que as pessoas liam muito mais rápido do que folheando páginas e que o movimento dos olhos faziam o desenho da letra F, e portanto, o apelidaram de fast. Ao entrar num site, os internautas primeiro fazem um movimento horizontal, normalmente na parte superior da área de conteúdo do site. Depois, os olhos fazem um segundo movimento na horizontal, abaixo do primeiro movimento. Por último, os olhos descem numa linha vertical, que, por vezes, pode ser mais lenta do que a “olhada” horizontal. Buscamos o tempo todo por palavras-chaves, que revelam o texto sem termos que nos dedicar à íntegra e dispensamos a linearidade da leitura tradicional na web.

Sobre o quesito portabilidade, temos que nos lembrar que nunca fomos tão “móveis” como nos dias de hoje. Nossos computadores portáteis (notebooks, palmtops, celulares) estão aptos a se conectar a qualquer banda wi-fi, ou fazer uma conexão web por infra-vermelho ou bluethooth. É possível baixar livros inteiros para um palmtop – e ler, confortavelmente, em qualquer lugar e até mesmo no escuro. “Ah, mas as letras são pequenas”: isso não existe mais! Qualquer software de leitura de textos ou navegador de internet permite que vc escolha o tamanho da fonte que deseja visualizar.

Enfim, a questão de desconforto com a leitura online não se trata de tamanho de texto, desenho gráfico, resolução de tela, ou portabilidade. É uma questão de técnica corporal, uma nova sensorialidade, que será apreendida com o tempo. Dia após dia treinamos nossos olhos e nosso corpo para essa atividade. Assim como aprendemos um dia a treinar nossas mãos para o trabalho com o mouse, depois com o trackpad e agora com o touchscreen.

Abaixo os mitos! A leitura na tela não será desconfortável para sempre, ela tratará de acostumar-se.


Rastreamento Ocular : como se lê na web

mapa ocular
mapa ocular

Duas linhas na horizontal e uma na vertica: é assim que a maioria dos internautas lê os textos na web, conforme a pesquisa de rastreamento ocular feita pelo Nielsen/Norman group em 2006 (isso mesmo, o bom e velho Jakob Nielsen). Realizado com 232 usuários que visitaram milhares de páginas, o estudo concluiu que o internauta médio movimenta os olhos pelos websites de forma muito mais rápida do que quando folheia um livro.

Ao entrar num site, os internautas primeiro fazem um movimento horizontal, normalmente na parte superior da área de conteúdo do site. Depois, os olhos fazem um segundo movimento na horizontal, abaixo do primeiro movimento. Por último, os olhos descem numa linha vertical, que, por vezes, pode ser mais lenta do que a “olhada” horizontal. Esse movimento foi apelidado de “F”, já que se parece com o desenho da letra. F de fast.

Como já discutimos lá no iMasters, agora você já sabe que ninguém vai ler o seu texto de ponta a ponta. Para fisgar os leitores use dois estratagemas: concentre as informações mais importantes nos dois primeiros parágrafos do texto. Comece os parágrafos e os subtítulos com palavras de impacto. Assim, quando ele estiver fazendo o escaneamento vertical pode se interessar pelo tópico e optar por ler todo o texto.

A cor vermelha do gráfico mostra as partes que foram lidas; a amarela são as olhadinhas; as azuis receberam pouca atenção e a cinza nenhuma.

Por Ana Erthal,  jornalista, mestranda em Comunicação Social pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), na linha de Novas Tecnologias. Trabalhou para a Folha de São Paulo e para o Meio & Mensagem e há 10 anos migrou para a internet como webwriter e webdesigner. Foi coordenadora de conteúdo e de planejamento, treina equipes para a formação de webwriters e atualmente é consultora de empresas .

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