Podcasts contribuem com desenvolvimento do jornalismo nacional

O crescimento dessa tendência favorece a diversidade jornalística de contar histórias

O professor Carlos Eduardo Lins da Silva comenta sobre podcasts como produtos jornalísticos. O Brasil é considerado o segundo maior mercado de podcasts no mundo e, para o especialista, isso indica “uma grande oportunidade de o jornalismo nacional se desenvolver utilizando um veículo que é a cara do Brasil, já que somos um país com uma tradição de oralidade e de rádio muito grande”.

Desde notícias breves a reportagens aprofundadas, os podcasts jornalísticos representam a “diversidade de formas de contar histórias”. Os principais veículos brasileiros estão apostando nessa tendência e tendo uma grande receptividade por parte do público. O Jornal da USP também conta com uma grande variedade de podcasts, que podem ser conferidos no nosso site e nos principais agregadores.

Ouça a coluna Horizontes do Jornalismo

Fonte : Coluna Horizontes do Jornalismo, com o professor Carlos Eduardo Lins da Silva que vai ao ar toda segunda-feira às 9h00, na Rádio USP (São Paulo 93,7 FM; Ribeirão Preto 107,9 FM) e também no Youtube, com produção do Jornal da USP e TV USP.

 

Por que acreditamos em fake news?

Como discernir o que é certo e errado nesse fluxo de informações tão diversificadas

O ritmo da vida no século XXI criou tempestades de informações que dominam nossos sentidos. Ouvimos com frequência que é impossível assimilar todas as informações que recebemos.

Mas é menos comum que alguém comente que baseamos nossos julgamentos em informações que não provêm de nenhuma fonte externa. Em outras palavras, nosso julgamento é influenciado pela maneira de agir e pensar de outras pessoas.

Pense em um cenário simples. Você está em um cinema lotado quando, de repente, o pânico se espalha entre as pessoas ao seu redor e elas se precipitam para a saída. Qual é sua reação? Você nota que as pessoas estão com medo de algo que lhe passou despercebido. Mas o medo delas é genuíno, por isso, você também corre para a saída.

É possível que tenha sido um alarme falso, mas é natural que a reação imediata seja de seguir as pessoas em pânico. Mas as tempestades de informações da era digital alteraram a forma como interagimos com as pessoas e o mundo que nos cerca. Agora, não somos mais tão confiantes em nossas percepções e os erros e as manipulações que permeiam o conjunto de informações que recebemos nos assustam.

Vincent F. Hendricks e Pelle G. Hansen, autores do livro Infostorms, sugeriram uma alternativa interessante para enfrentar com menos estresse o mundo virtual que nos bombardeia com informações diárias.

Em vez da angústia de viver em um mundo da pós-verdade dominado por forças irracionais, é preciso ter uma visão mais clara e menos emocional da dinâmica das informações divulgadas nos sites e nas redes sociais.

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Assim que alguém faz uma publicação em uma rede social, os que o compartilham podem ter dúvidas quanto à sua veracidade. Mas, em vez de pesquisar o assunto, as pessoas, em geral, recorrem a um método mais simples e rápido de perguntar a opinião de outros usuários da rede.

E, desse modo, as notícias falsas ou não se disseminam com base em trocas de informações sem fundamentos sólidos.

As críticas, comentários, cliques e curtidas movimentam as redes sociais e influenciam a opinião pública. Então, como discernir o que é certo e errado nesse fluxo de informações tão diversificadas?

No mundo real, uma notícia falsa pode ser desmentida com um argumento confiável e de consenso. Mas no mundo virtual a noção de verdade é mais fluida. No entanto, como sugerem Hendricks e Hansens, as tempestades de informações, assim como os eventos climáticos não são fenômenos estáticos.

Nas redes sociais, onde as publicações discutem temas diferentes, sem opiniões categóricas ou ideologias, os usuários pesquisam a autenticidade das fontes antes de absorverem as informações. Essa visão mais crítica permite a discussão livre de ideias em comunidades virtuais que, hoje, fazem parte indissolúvel de nosso cotidiano. ​​É uma aposta que Hendricks e Hansens fazem em seu livro.

Fonte:
BBC-Why we believe fake news
By Tom Chatfield

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A supressão da liberdade na internet

Freedom House aponta que, pelo oitavo ano consecutivo, os governos estão cada vez mais controlando dados

O novo relatório da think tank Freedom House mostra um declínio nas liberdades on-line em todo o mundo. No Brasil, ocupamos a posição de número 34, usando as leis para realizar prisões de internautas que realizam conteúdos impróprios e lidando com as fake news.

Iconomia

A coluna Iconomia, com o professor Gilson Schwartz, vai ao ar toda segunda-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7 FM; Ribeirão Preto 107,9 FM) e também no Youtube, com produção do Jornal da USP e TV USP.

Por Sandra Capomaccio

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Papel do jornalista é denunciar crimes cometidos ao longo da história

Uma comparação entre o papel do jornalista e do historiador a partir da guerra na Síria

Recentemente, a professora Marília Fiorillo comentou sobre a guerra na Síria. “Desde 28 de abril, mais de 250 crianças, mulheres e homens sírios foram assassinados ou estão soterrados graças aos ataques aéreos da coalizão Assad-Rússia, e cerca de 270 mil pessoas ficaram sem-teto”, explica. Os dados são da Organização das Nações Unidas (ONU).

O destaque vai para o fato de que apenas 30% das pessoas que necessitam de ajuda humanitária naquela região estão conseguindo recebê-la. Para Marília, o fato de algumas regiões serem controladas por grupos terroristas não pode servir de pretexto para que o regime de Assad continue seus ataques nesses locais.

A professora também faz uma reflexão sobre a necessidade de se noticiar um acontecimento bárbaro, mesmo que se repita. “Não há notícia velha ou nova”, reforça. Para ela, o trabalho do jornalista se assemelha com o do historiador: não permitir que o esquecimento apague os crimes da história.

Ouça a íntegra da coluna Conflito e
Diálogo.

Publicado na Coluna “Conflito e Diálogo”, com a professora Marília Fiorillo, que vai ao ar toda sexta-feira às 10h50, na Rádio USP (São Paulo 93,7 FM; Ribeirão Preto 107,9 FM) e também no Youtube, com produção do Jornal da USP e TV USP.

Por Maria Paula Andrade

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Estudo aponta que jornalismo é profissão muito perigosa no Brasil

Relatório da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão aponta que atuar na imprensa brasileira está entre as atividades mais perigosas

Relatório da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), divulgado esta semana, apontou que atuar na imprensa brasileira está entre as atividades mais perigosas. Intimidações, ofensas, ameaças, perseguições, detenções, agressões, assédios de toda ordem e assassinatos estão entre os 114 episódios – ante 76 no ano anterior – denunciados na pesquisa que também demonstra o aumento do número de mortes de profissionais de imprensa – após dois anos de queda. Militantes de partidos e manifestantes estão entre os principais agressores em 2018.

Ainda segundo o estudo, as distintas formas de agressão estão relacionadas ao contexto político recente – marcado pela prisão do ex-presidente Lula, pela greve dos caminhoneiros e pelas manifestações políticas durante a campanha que elegeu Jair Bolsonaro.

Segundo a Abert, três radialistas – Jairo Sousa (de Bragança, no Pará), Jefferson Pureza (de Edealina, em Goiás) e Marlon Carvalho (em Riachão do Jacuípe, na Bahia – foram executados no exercício da profissão por divulgar denúncias e críticas a autoridades e políticos de suas regiões. Presidente da associação e vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet Camargo – recentemente chamado de “inimigo” pelo presidente Bolsonaro – destaca que o índice brasileiro preocupa: “Eles foram assassinados por exercerem o direito de livre opinião e livre cobertura nos seus veículos. O saldo de mortos em 2018 em todo mundo chegou a 86, inclusive em áreas de conflito”. Em 2017, a Abert contabilizou um assassinato. Na série histórica, 2015 foi o ano mais violento, com oito homicídios. Nos últimos 12 anos, o número chega a 38. Apenas dez crimes foram solucionados.

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As distintas formas de agressão estão relacionadas ao contexto
político recente (Foto: EBC)

O ranking dos países mais perigosos

Organismo que também se preocupa com a violência praticada contra a mídia, a Unesco lembra: “em muitos países, as publicações são censuradas, multadas, suspensas e fechadas, da mesma forma que jornalistas, redatores e editores são perseguidos, atacados, detidos e até assassinados.” Segundo dados do mais recente – embora já antigo – estudo da organização, de 2015, a França acabou entrando no triste ranking mundial da violência contra a imprensa por causa do massacre de doze funcionários, redatores e cartunistas do jornal Charlie Hebdo, que causou comoção mundial.

Assim, a lista começa com o Iraque (13 mortos e 60 foragidos por medo de represálias). Em segundo, aparece a Síria (10 mortos e um sem-número de profissionais feitos reféns ou presos). A França surge, de forma extemporânea, em terceiro (oito jornalistas mortos). Seguem o Iêmen, o Sudão do Sul, a Índia, o México, as Filipinas e Honduras.

Também na América Central, a Nicarágua é alvo de denúncia da Fundação Violeta Barrios de Chamorro. Ali, em 2018, segundo a entidade, foram deflagrados 420 atentados, ameaças e censuras – vitimando 260 jornalistas – perpetrados por forças simpatizantes ou subordinadas ao governo do presidente Daniel Ortega. Os casos mais emblemáticos foram o assassinato de Ángel Gahona (morto com um tiro na cabeça), além de 26 ofensas, 71 intimidações, 64 censuras, 62 ameaças, 77 agressões, 70 ataques e 33 casos de difamação promovidos por policiais e paramilitares da Frente Sandinista.

Mesmo fora do já caduco relatório da Unesco, a Venezuela está no segundo pior lugar no ranking mundial da liberdade de expressão da organização Freedom House. Cuba ocupa o primeiro posto. Embora – no papel – a Constituição do país proteja a liberdade de imprensa, ao Governo Maduro – na prática – é permitida a intimidação e censura a veículos e empresas – inclusive com a ameaça de não renovação de concessões de emissoras de rádio e TV – e toda sorte de constrangimentos a jornalistas.

Por Claudio Carneiro

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A interface digital ainda não consegue substituir o papel

A interface digital ainda não consegue substituir o papel

“O papel provoca atrito ao escrever, o que dá uma sensação tátil agradável”, afirma.

O dilema do papel é o tema abordado pelo professor Luli Radfahrer. Segundo ele, as pessoas mais velhas mantêm o hábito de imprimir em papel, porque o papel ainda possui características que a interface digital não consegue substituir. Uma delas é que o papel provoca atrito ao escrever, o que dá uma sensação tátil agradável, além de ser extenso, podendo ser dobrado, desdobrado e empilhado em folhas, uma ao lado da outra, fazendo-o muito maior do que cabe numa tela.

Radfahrer sugere que no futuro estaremos lendo e escrevendo em plástico e não em papel. “Embora o plástico seja derivado de petróleo, o plástico virgem é mais barato que o reciclado, ao contrário do alumínio. É muito fácil tirar petróleo e transformar em plástico virgem, por isso as pessoas ainda jogam fora”, observa.

Veja aqui na íntegra :

Radfahrer sugere que no futuro estaremos lendo e escrevendo em plástico e não em papel. “Embora o plástico seja derivado de petróleo, o plástico virgem é mais barato que o reciclado, ao contrário do alumínio. É muito fácil tirar petróleo e transformar em plástico virgem, por isso as pessoas ainda jogam fora”, observa.

Jornal da USP
Luli Radfahrer

Matéria escrita e publicada pela Redação do Jornal da USP

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Fake News : Informações falsas ganham as redes sociais e a internet

Na era da pós-verdade, verdade e ficção se dissolvem em uma perigosa influência na opinião pública

Informações falsas ganham as redes sociais e a internet
A internet e as redes sociais criaram oportunidades novas para as operações de informação

Não existe nada de novo nas discussões sobre notícias falsas ou campanhas de desinformação da Rússia. Em 1983, no auge da Guerra Fria, uma história extraordinária foi publicada no jornal Patriot, uma obscura publicação pró-soviética. O artigo dizia que o governo dos Estados Unidos havia criado o vírus da Aids como uma arma biológica e pretendia exportá-lo para outros países, sobretudo para os países em desenvolvimento, como uma forma de controlá-los. A história reapareceu em diversas publicações importantes em mais de 50 países.

No ano passado, logo após as revelações sobre a interferência russa nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, mas antes da divulgação de seu impacto no Facebook, Twitter e no Google, o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, declarou que havia criado unidades especiais no exército russo destinadas a fazer uma guerra de informação na mídia. Uma semana antes, o general Petr Pavel, presidente do Comitê Militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), revelou que um relatório sobre estupros de mulheres na Lituânia por soldados alemães fora inventado pela Rússia.

A internet e as redes sociais criaram oportunidades novas para as operações de informação (IO), que usam as mensagens como armas para influenciar usuários de redes sociais, que leem apenas notícias e opiniões que confirmam suas ideias, sem que haja possíveis controvérsias.

Segundo o Facebook, durante e depois das eleições presidenciais americanas em 2016, a Internet Research Agency, um site russo que divulga mensagens nas redes sociais, em grupos de discussão e sites de notícias foi responsável pela publicação de cerca de 120 páginas falsas e 80 mil postagens recebidas por 29 milhões de americanos. Por meio do compartilhamento de informações, o número chegou a quase 150 milhões de usuários da web, ou aproximadamente dois terços do eleitorado americano.

A guerra de informação não se limita à Rússia. Os radicais jihadistas usam a divulgação de informações falsas para recrutar novos combatentes. E, apesar do combate das redes sociais à divulgação de notícias falsas, as técnicas russas de manipulação da opinião pública se adaptam com facilidade ao novo ambiente digital. Segundo Rand Waltzman, um antigo gerente de projetos da Defense Advanced Research Projects Agency (DARPA) dos EUA, “quando os russos percebem que há pontos vulneráveis em suas técnicas de IO, logo iniciam uma nova guerra de informação”.

No futuro, o avanço da inteligência artificial dificultará ainda mais a distinção entre as informações falsas e verdadeiras divulgadas nos meios digitais. Os sites oficiais e as redes sociais ficarão mais vulneráveis à ação dos hackers e à exposição a conflitos. É preciso unir forças em um projeto comum para lutar contra a era pós-verdade em que a sociedade prefere os boatos aos fatos.

Fonte:
The Economist – Waging war with disinformation

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Fake News, a mentira em primeiro lugar

A disseminação de Fake News é um fato mundial relativamente novo e que vem se expandindo em preocupante progressão

A disseminação de Fake News é um fato mundial relativamente novo e que vem se expandindo em preocupante progressão. Por este motivo, países como Alemanha, Estados Unidos e França – e também o Brasil – começam a lidar com o problema.

Em nosso país, o Tribunal Superior Eleitoral criou um conselho consultivo especificamente projetado para combater a propagação de notícias falsas cujo objetivo é deformar candidaturas e reputações. Reunido esta semana em Brasília, o conselho decidiu procurar os gigantes da área como o Facebook, o Google e o Twitter para buscar mecanismos que ao menos freiem a difusão de conteúdo falso, que ocorre – é bom que se diga – não somente online, mas também nas mídias convencionais. Segundo o secretário geral do tribunal, Luciano Felício, “o foco não é a punição, mas a prevenção”.

Não é que a imprensa brasileira seja especializada na criação de mentiras de forma maldosa e deliberada. O fato é que praticamente todos os partidos postam fakes nas redes sociais com “verdades” denuncistas contra eventuais e possíveis candidatos ou nomes emergentes. É a fogueira do prestígio de quem quer que seja. Ocorre também que alguns coleguinhas da capital federal são tentados a produzir textos baseados nas declarações de fontes palacianas. E palácios não faltam “no planalto central do país”. E, na capital do país, citações e declarações de fontes – grosso modo – não requerem apuração.

Já na Rússia, a coisa é mais séria no regime de Vladimir Putin. Os sites RT e Sputnik, comandados pelo Kremlin, dedicam-se quase que exclusivamente a espalhar falsidades sobre autoridades de estado antagônicas a Moscou. O presidente francês, Emmanuel Macron, por exemplo, é a bola da vez. E não há órgãos que controlem o ímpeto da imprensa marrom comandada por Putin. Mas a União Europeia estuda o assunto com seriedade.

A “barriga” dos jornalistas brasileiros

No Brasil, o jargão jornalístico “barriga” é usado quando uma notícia falsa é divulgada quase sem querer – sem a devida apuração. Ocorre, por exemplo, quando um veículo de comunicação quer divulgar o número de vítimas de um grave acidente e projeta para cima o número de mortos. Tempos depois, acaba sendo obrigado a ressuscitar alguns deles.

Recentemente a senadora Gleisi Hoffmann produziu com espalhafato – intencionalmente ou não – uma fake news ao divulgar no twitter que a torcida do Bayern de Munique homenageara o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva em uma faixa com os dizeres “Forza Lula” em função do julgamento a que será submetido no dia 24 deste mês. Na verdade, os dizeres eram “Forza Luca”, um torcedor italiano ferido em confusão entre as torcidas de dois times italianos. Ainda assim, Gleisi não se deu por vencida e atacou os veículos de comunicação brasileiros que notaram o erro. Até que Augusto Nunes, de Veja, foi escalado para espinafrar a presidente do Partido dos Trabalhadores.

O Picasso Falso do INSS

O documentário “Mercado de Notícias”, de Jorge Furtado, aborda o papel e a responsabilidade da imprensa com os fatos e, principalmente, com as mentiras. O filme destaca matéria veiculada pela Folha de S. Paulo em 2004 dando conta que um quadro de Picasso, “Mulher em Branco”, era uma das preciosidades do patrimônio de um escritório do INSS e passava os dias debaixo das luzes florescentes em meio à papelada da repartição. A notícia exclusiva foi publicada em vários jornais e sites – como o Estadão, Isto É, El Siglo, High BeaBeam – serviço de busca que publica matérias de publicações e jornais em todo o mundo – só para citar alguns. Dois anos depois, tal obra volta à mesmíssima primeira página da Folha. O prédio do INSS pegou fogo e teve gente que arriscou a própria vida para salvar o Picasso.

Soube-se depois que tal obra era mera reprodução – que pode ser comprada por dez dólares na lojinha do Guggenheim, onde o original está exposto. Os veículos que embarcaram na canoa furada da notícia falsa jamais reconheceram o erro. Pior, nenhum jornalista correu atrás para saber quem deu o Picasso falso como pagamento de dívida com o INSS.

Por Claudio Carneiro

As armadilhas da linguagem jornalística

Mesmo em jornais conceituados, jornalistas tendem a usar palavras ricas em conteúdo, mas omitem artigos e preposições essenciais ao contexto das notícias

Os grupos de pessoas com interesses e ocupações comuns têm códigos linguísticos de difícil compreensão para os não iniciados. Os jornalistas não são uma exceção. A palavra “lide”, para indicar a abertura de um texto jornalístico, “chamada”, um pequeno texto na primeira página a fim de atrair o leitor para matérias publicadas nas muitas sessões de um jornal, ou “furo”, notícia importante publicada antes de outros meios de comunicação, são algumas das palavras usadas no dia a dia das redações dos jornais.

Mas à parte esse jargão específico de um local de trabalho, os jornalistas precisam buscar clareza em seus textos destinados, em geral, a um grande público. Na Grã-Bretanha, os jornais enfrentam uma competição terrível nas inúmeras bancas de jornais espalhadas pelas cidades. Assim, os tabloides procuram publicar manchetes com frases curtas e de grande impacto para atrair o leitor, muitas vezes com um sentido obscuro.

No entanto, mesmo em jornais mais tradicionais e conceituados, os jornalistas tendem a usar palavras ricas em conteúdo, mas omitem artigos e preposições essenciais à estrutura e ao contexto das notícias de maior destaque das primeiras páginas dos jornais. Por outro lado, nas matérias principais os jornalistas têm uma tendência oposta. Muitas vezes os artigos são escritos em um estilo claro, de tão fácil leitura, que os leitores se sentem perdidos em meio a outras notícias mais precisas e contextualizadas.

O uso de palavras corriqueiras na mídia impressa como “proeminente”, “marco histórico”, “divisor de águas”, “estratégia”, entre outras, dá a impressão que o jornalista não acredita no impacto dos fatos que relata e, por isso, recorre a chavões, ou a ideias estereotipadas.

Mas os bons editores devem ficar atentos às armadilhas da linguagem jornalística. Certa vez, George Orwell escreveu: “Nunca use uma metáfora, ou outra figura de linguagem.” Assim, em vez de frases triviais como “as mariposas são atraídas pela luz artificial”, Orwell diria “as moscas são atraídas pelo cheiro da decomposição de um gato morto”. Mas nesse rigor linguístico de um grande escritor está implícita a mensagem que um jornalista deve se ater aos fatos expressos de uma forma clara, informativa, transparente e imparcial. Um grande desafio, sem dúvida.

Fontes:
The Economist-The many pitfalls of journalese

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Estudo analisa jornalismo e relações públicas

Na era digital, é cada vez menor a dependência que as empresas de relações públicas têm do jornalismo – e cada vez maior a dependência na direção contrária. Essa é a principal conclusão do estudo “Journalism and PR – News Media and Public Relations in the Digital Age” (Jornalismo e RP – Mídia Jornalística e Relações Públicas na Era Digital), produzido pelo Instituto Reuters para o Estudo de Jornalismo, da Universidade Oxford.

“As pessoas de RP ainda querem o endosso de um terceiro, independente”, diz John Lloyd, coautor do estudo ao lado de Laura Toogood. “Jornais e TV ainda são muito poderosos, mesmo com seus problemas. Mas não comandam mais o espaço das relações públicas.”

Imprensa, TV e outros meios “têm de negociar um novo contrato com as relações públicas” e já começaram a fazê-lo, diz ele, com experiências como publicidade nativa (anúncios em forma de jornalismo) e um elo maior com as empresas, mediado por RP.

Brasil e EUA

As relações públicas têm hoje o que os autores de “Journalism and PR” chamam de “novos aliados”: as redes de mídia social, os canais de comunicação criados diretamente por empresas ou políticos e os bancos e ferramentas de dados sobre os consumidores – big data.

“Os novos aliados são as formas digitais de comunicação”, diz. “As pessoas de RP e seus clientes – empresas, partidos, governos – têm outros canais com as pessoas com quem querem se comunicar, sejam clientes ou acionistas, eleitores ou o público.”

O resultado é que “não precisam mais de jornalistas para levar a sua mensagem”. Com isso, parte do que é hoje divulgado via relações públicas, em ações de assessoria de imprensa ou agência de publicidade, não recebe contexto nem crítica.

“Uma empresa pode divulgar um material dizendo que vai fazer um grande novo projeto e não há um jornalista para lembrar que, na última vez em que ela divulgou algo assim, o projeto fracassou”, diz Lloyd. “Portanto, é uma perda, sim, de sentido crítico.”

Sobre o Brasil, Lloyd acredita que o cenário não seja diferente do dos EUA. “Vale para onde mídia e relações públicas são fortes.”

Por Nelson de Sá – reproduzido da Folha de S.Paulo